Quebrando paradigmas



Os cristãos não têm mais templos, nem sacerdotes que oferecem sacrifícios a um Deus ultrajado em sua justiça, e não precisam guardar dias sagrados ou observar rituais para a purificação pessoal e veneração a Deus.
O apóstolo Pedro é porta voz da doutrina do Novo Testamento a respeito do culto ao ensinar que aqueles que estão em Cristo são semelhantes a pedras vivas, edificados como casa espiritual, para sacerdócio santo, a fim de que ofereçam sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por meio de Jesus Cristo (1 Pedro 2.5). O único sacrifício espiritual agradável a Deus que um cristão pode oferecer é a sua própria vida: Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (gr. logiken: genuíno, legítimo, autêntico). Em outras palavras, se a igreja, em Cristo, é templo de pedras vivas, cada cristão é um sacerdote, e sua própria vida, o sacrifício, então o culto ganha outra dimensão.
Este novo conceito de culto traz duas implicações. A primeira é que “a vida é um culto”, e nesse caso, “quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10.31). O que costumamos chamar de louvor, com pessoas reunidas para cânticos, é um momento no todo da adoração, e não a totalidade de nossa devoção a Deus.
A segunda implicação é que apresentar a vida como um sacrifício vivo a Deus, necessariamente desemboca no serviço. Russell Shedd diz que “o corpo e a mente não são sacrificados num altar, segundo o modo da antiga aliança, mas incorporados no serviço ativo dentro do corpo de Cristo, a Igreja. Os dons distribuídos pelo Espírito Santo são um sinal claro da aprovação de Deus aos sacrifícios vivos que lhe foram oferecidos”.
Reuniões para louvor e cânticos, muito embora justificadas pelo Novo Testamento, eram, entretanto, um parêntesis na vida de serviço sacerdotal da Igreja no mundo, e não a totalidade de sua dedicação a Deus. Os cristãos não prescindem dos grandes ajuntamentos para louvor e edificação… mas a celebração não encerra a totalidade da vivência da fé, sendo, de fato, apenas uma de suas partes… sendo inclusive muito reducionista do amplo sentido de servir a Deus.
A igreja de Jesus é, portanto, desafiada pelo Novo Testamento, a viver além dos limites do templo, do domingo, do culto e do clero. Muito provavelmente nada disso seja novidade. O problema é que nossa prática eclesiástica não acompanha nossa lucidez teológica... a igreja não se vê mais como um instrumento nas mãos de Deus para “fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão no céu quanto as que estão na terra” (Efésios 1.10). Isto é, a igreja perde o sentido de missão, pois se o Senhor Jesus quer exercer sua autoridade no universo criado por meio da igreja, ela não pode permanecer intra-muros... O maior desafio pastoral contemporâneo é pegar os cristãos reunidos no templo, no domingo, para o culto onde o clero desempenha sua performance, e despejá-los na segunda-feira para a vivência da fé, onde quer que se encontrem. Deixar que a igreja se compreenda como “comunidade reunida para o culto” é uma completa distorção dos propósitos de Deus.

Notas:
Extraído de Quebrando Paradigmas, publicado em setembro de 1995

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