Novo século... Antigo desafio


Por Wanda Assumpção

Um dia destes eu preenchia os dados para um documento quando, ao declarar minha data de nascimento, dei-me conta de que sou do século passado. E não só do século passado, mas do milênio passado também.

Primeiro, senti-me uma velha coroca. Depois, vi que o mesmo podia dizer meu netinho de três anos. Percebi, então, que estava desfrutando um grande privilégio ao estar viva para ver este momento da história da humanidade.

Muita gente se agitou bastante com a entrada do ano 2000. Parecia que algo estranho teria de acontecer para marcar essa data tão importante. Uma amiga que visitei me mostrou, encabulada, o grande suprimento de produtos não perecíveis e enlatados que fez por medo que alguma coisa terrível acontecesse e ela não pudesse alimentar a família. No entanto, decorridos alguns dias do novo milênio, as coisas já estavam tão normais que a única lembrança de todo esse alvoroço era a dificuldade de não errar o número do ano ao escrever a data no cheque.

Entretanto, ninguém pode negar que estamos vivendo tempos de grandes mudanças na sociedade globalizada de nossos dias e em nossas vidas particulares. As mulheres, especialmente, estão diante de um grande desafio. Estamos desfrutamos bastante liberdade para nos realizarmos pessoalmente. Temos notícias de mulheres assumindo posições importantes no mundo da política, dos negócios, das ciências, e até no campo religioso. Parece que, de fato, chegou a vez e a hora de as mulheres deixarem sua marca no mundo em que vivem.

Creio firmemente que esse foi sempre o plano de Deus para suas criaturas. Quando Deus criou o ser humano, diz a Bíblia, fez um homem e uma mulher, os abençoou e lhes deu a determinação de dominar o mundo e toda a criação como governantes sábios e obedientes ao plano divino. Embora a entrada do pecado tenho trazido consequências traumáticas tanto para a raça humana quanto para a criação, o propósito inicial de Deus não mudou. A presença da mulher é essencial para um domínio equilibrado e sensato do mundo que Deus criou.

A mulher não esteve ausente durante todos os milênios em que atuou quase exclusivamente dentro do lar, pois influenciava indiretamente todo o andamento da sociedade ao moldar as vidas que comporiam a estrutura dessa mesma sociedade. Entretanto, quando as mudanças que vêm ocorrendo abrem as portas para uma ação mais ampla da nossa parte, como devemos encarar esse desafio?

Antes de mais nada, precisamos reconhecer que o nosso Deus é o Senhor da história. Pode parecer que foram as mudanças sociais trazidas pela luta feminista e pelo reconhecimento masculino do valor da mulher que nos compraram a liberdade que hoje desfrutamos. E, em parte, foram. Mas nenhum desses fatores teria alcançado sucesso sem a permissão do Senhor do tempo. Assim, é diante dele que temos de examinar o nosso papel neste novo milênio. Foi ele quem nos fez e que tem um propósito bom para cada uma de nós.

Vamos considerar, então, do ponto de vista da mulher cristã, diversas áreas em que podemos dar uma contribuição importante se nossa identidade estiver ancorada em Deus e no seu propósito para nós.

A primeira delas diz respeito ao nosso corpo físico. Esta é uma das primeiras áreas em que a libertação das mulheres tem trazido diversos malefícios para nós, em vez de nos beneficiar. Hoje, quando todo mundo conhece de sobra os males causados pelo cigarro, o número de mulheres que fumam já é maior do que o dos homens. No outro extremo, a preocupação exagerada com a forma e a beleza físicas, cujo padrão de perfeição nem sempre condiz com as formas femininas normais, tem levado as mulheres a verdadeiras maratonas dentro das academias de ginástica, a regimes malucos que muitas vezes acabam matando e a doenças quase exclusivamente femininas, como a anorexia e a bulimia.

Essa ênfase na aparência tem desvalorizado a mulher como pessoa mais do que qualquer forma que restrição que ela tenha sofrido no passado. Li recentemente numa de nossas importantes revistas semanais os comentários desairosos sobre uma senhora de cinquenta e dois anos que foi inadvertidamente fotografada de maiô numa pose bem pouco atraente, na qual ela com certeza jamais se deixaria fotografar se tivesse percebido a presença do fotógrafo. Depois de analisar em tom de crítica cada pedaço da anatomia daquela mulher, o comentário concluiu: "O que foi que o Sr. Fulano viu nela?" Boa pergunta! Quer dizer que a mulher pode ter algum valor além de sua aparência física, da beleza do seu corpo?

Infelizmente, estamos sendo bombardeadas com mensagens como essas pelos meios de comunicação. Por isso, o primeiro desafio que enfrentamos neste início de milênio é o de ter e procurar difundir a perspectiva correta do nosso valor total como pessoas, nem abusando do nosso corpo para de alguma forma fazermos com que se encaixe nos modelos que nos estão sendo impingidos, nem negligenciando os cuidados a que hoje temos acesso para que ele seja um templo digno para o Espírito Santo.

O segundo desafio diz respeito à nossa sexualidade. As mulheres foram liberadas, dizem, do falso moralismo sexual que defendia um padrão de comportamento para os homens e outro para as mulheres. Assim liberadas, as mulheres hoje são estimuladas a viver plenamente sua sexualidade, começando a desenvolver seu lado sexual desde pequeninas, e partindo para uma vida sexual ativa já na adolescência. Muitas vozes sensatas têm-se erguido contra os males que esse comportamento traz: gravidez precoce, com crianças gerando crianças em corpos imaturos, avanço de doenças sexualmente transmitidas, inclusive a AIDS e relacionamentos instáveis na vida adulta, pois o sexo está sendo cultuado como algo à parte do relacionamento, como se um relacionamento sexual fosse mais importante do que valores como compromisso, afeto e intimidade emocional.

Cabe às mulheres liberadas de hoje resgatar o sentido e o valor dos relacionamentos, vivendo sua sexualidade da única forma como ela pode trazer toda a satisfação que ela foi projetada para dar: dentro de um relacionamento permanente, firme, amoroso, compromissado. Essa foi sempre a idéia de Deus. Não podemos permitir que outras vozes deturpem o presente bom de Deus para nós.

Vamos encontrar o terceiro desafio na área das finanças. Mudanças irreversíveis estão ocorrendo também no campo do trabalho. Empregos estão sendo extintos sem possibilidade de voltarem a existir devido aos progressos tecnológicos de nossos dias. O grande número de desempregados em nosso país é prova dessa nova realidade. Assim, as mulheres estão sendo convocadas em peso a contribuírem para o sustento das famílias. Já não é mais uma questão de opção ter um trabalho remunerado, mas, em muitos casos, uma necessidade absoluta. E as mulheres têm ido à luta. Nos Estados Unidos, a renda dos pequenos negócios abertos e geridos por mulheres já supera a das 500 maiores empresas do país.

O desafio nesta área é duplo. Ocupar-nos fora de casa sem negligenciar o nosso lar, e aprendermos a gastar bem o dinheiro que ganhamos. Muitas vezes, o senso de culpa que sentimos por nos ausentarmos tanto de casa quando trabalhamos fora nos leva a tentar compensar materialmente essa falta. Assim, acabamos mimando nossos filhos com coisas materiais, trocando a penúria financeira pela falta de disciplina e equilíbrio emocional. Quando a mulher decidiu que precisa, por motivos financeiros ou por sua própria necessidade pessoal, gastar tempo fora de casa, tem de envolver toda a família em seu projeto de vida. Por ser o eixo em torno do qual gira toda a estrutura familiar, a mulher vai ter de administrar bem sua ausência para não prejudicar emocionalmente sua família enquanto a beneficia materialmente.

O último desafio com que estamos nos confrontando nesta virada de milênio está na área espiritual. As mulheres estão sendo convocadas a ocuparem lugares de liderança no corpo de Cristo, e a controvérsia em torno da ordenação de pastoras tem ocupado as capas de muitas das revistas evangélicas. O jornal oficial da igreja presbiteriana trouxe recentemente a opinião de um de seus conceituados líderes falando a favor da ordenação de mulheres ao diaconato, ao presbiterato e ao ministério. Essa é uma questão que já não pode ser ignorada. Mas já que toda essa liberdade não pode vir sem a permissão do nosso Deus, como ele deseja que a usemos, especialmente nesta área?

Há um critério definitivo estabelecido na Bíblia para todos os filhos de Deus e que pode nos beneficiar muito quando adentramos esta nova área da liberdade religiosa. Devemos estar sempre sob autoridade - autoridade de Deus, autoridade de homens e mulheres maduros na fé, que podem nos instruir, nos admoestar e corrigir quando for preciso. E precisamos nos lembrar que o chamado para uma posição em particular deve vir primeiro do Senhor, para depois ser confirmada pelo corpo de Cristo.

Parece que todas essas coisas mudam definitivamente a vida das mulheres que viverão e influenciarão os anos seguintes. Entretanto, a chave para os desafios que enfrentaremos é tão antiga quanto a história do povo de Deus.

A Bíblia registra o retrato de uma mulher que viveu há muitos milênios e que enfrentou os mesmos desafios e dilemas que enfrentamos hoje. Ela foi casada, cuidou do marido, de seu lar, de suas empregadas, teve seu próprio negócio, fez investimentos financeiros, não se esquecendo da ação social e do ministério do ensino. Talvez você já a conheça, e até ache impossível alguém ser tão prendada e bem-sucedida. Sim, estou falando da mulher de Provérbios 31. Essa passagem não fala de um momento que aquele senhora viveu, mas de toda a vida, com suas diversas e sucessivas fases. Entretanto, mais do que as coisas que aquela mulher fez, a passagem descreve quem ela é, como e porque ela faz tudo o que faz.

Duas coisas me chamam a atenção nesse quadro. Primeira, ele mostra uma mulher bem segura quanto às suas prioridades, que age sempre em benefício de sua família primeiro. Ela tem uma convicção profunda e inabalável de que o sucesso fora do lar jamais compensará o fracasso naquilo que lhe é mais caro: os relacionamentos familiares. Essa convicção rege todas as suas atividades. A outra coisa que vejo nessa descrição é a chave para a sabedoria daquela mulher da antiguidade e que ainda é essencial para nós hoje -- vivermos honrando e obedecendo ao nosso Deus. "A mulher que teme ao Senhor, essa será louvada" (v. 30). Através do exercício da obediência aos princípios divinos, essa mulher adquiriu o discernimento necessário para alinhar suas prioridades com o bom propósito de Deus para sua vida.

O mesmo acontece com cada uma de nós hoje. Estamos sendo desafiadas pelas mudanças dos tempos que vivemos e pelas dificuldades que enfrentamos em nossas vidas particulares, sejam elas na área do trabalho, da saúde, dos relacionamentos ou na área espiritual. Mas a resposta continua sendo a mesma que a sábia mulher da Bíblia encontrou: viver no temor do Senhor. Ele é o Senhor dos tempos, da história e de tudo que acontece na vida de seus filhos, a quem ama com amor eterno e cujo bem promove mesmo nas maiores dificuldades.




*Artigo para SAF em Revista: SAF em Revista é uma publicação da Sociedade Auxiliadora Feminina da Igreja Presbiteriana

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